segunda-feira

Outono (outra vez)

Hoje, só por ser Outono, vou chamar-te "meu amor"
Contra as regras do que somos, vou chamar-te "meu
amor"
Hoje só por ser diferente te encontrar
...

É tanto o fado contra nós

Mas nem por isso estamos sós
E embora fique tanto por contar
Hoje, só por ser Outono, vou...

Entre dentes, entre a fuga, vou chamar-te "meu amor"
Enquanto não se encontra forma, vou chamar-te "meu
amor"
Entre gente que é demais e tão pequena para saber

Que é tanto vento a favor
Mas tão pouco o espaço para a dor
Só pode ficar tudo por contar...
Hoje, só por ser Outono, vou...

E há flores e há cores e há folhas no chão
que podem não voltar...
podes não voltar.
Mas é eterno em nós
e não vai sair...

Desce o tempo e a noite vem lembrar que as tuas mãos
também
já não são de nós para ficar

Por ser tanto quanto somos
Certo quando vemos
Calmo quando queremos
Hoje, só por ser Outono, vou...

Outono



segunda-feira

amo-te


hoje e sempre!
construímos um S perfeito.

(e eu adoro qualquer simetria!)

Rosário

As (tuas) palavras

As palavras sempre ficam.
Se me disseres que me amas, acreditarei.
Mas se me ...escreveres que me amas, acreditarei ainda mais.
Se me falares da tua saudade, entenderei.
Mas se escreveres sobre ela, eu a sentirei junto contigo.
Se a tristeza vier a te consumir e me contares, eu saberei.
Mas se a descreveres no papel, o seu peso será menor.
Lembre-se sempre do poder das palavras.
Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo.
 Silvana Duboc

domingo

"As palavras sempre ficam.
Se me disseres que me amas, acreditarei.

Mas se me ...escreveres que me amas, acreditarei ainda mais.
Se me falares da tua saudade, entenderei.

Mas se escreveres sobre ela, eu a sentirei junto contigo.
Se a tristeza vier a te consumir e me contares, eu saberei.

Mas se a descreveres no papel, o seu peso será menor.
Lembre-se sempre do poder das palavras.
Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo."



Silvana Duboc
Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele
 


David Mourão Ferreira

terça-feira

Não


enrosco-me em ti como se não houvesse amanhã.
a minha mão percorre o teu corpo como se fora um explorador do sec XV
alimento-me do teu calor
sorvo o sabor do teu suor e tento (de todas os modos) reter nas minhas narinas o teu cheiro
preciso e ti para viver
não me deixes sozinha!


se partires… permanecerei, para sempre, aqui
enroscada em mim!

Dina

Tu és ...

sexta-feira

milagres


e com a dor primária, tão forte como a cor que lhe dá o nome, preparei-me para o pior.
para te perder, ainda antes de te conhecer, para desistir e partir, ainda antes de saber quem és tu.
esta cólica de bicho, que me suga o folego quando vem e me turva a razão e o querer e me deixa exaurida e inundada em suores acres nos breves instantes em que amaina, reduz-me à essência do que sou, do que somos: gente com corpo animalejo que concebe e pare como qualquer cadela da rua.
então tu rasgas-me, rebentas o aquário onde viveste. anestesias-me, porque a dor é tão forte que se a sentisse não a suportaria.
nasces-te, pari-te.
cheiro o visco que te envolve o corpo. misturo o meu pranto com o teu. quero lamber-te.
não o faço, abraço-te (não sei se para te proteger ou para experimentar o consolo que me podes dar. não sei.). 
apenas pressinto que nós dois, agora ainda perdidos nas nossas dores e solidões, quando nos conhecermos nos tornaremos uma família. a família um do outro.
Ana
  

only you!

quarta-feira

em abril...

sexta-feira

Amor

Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?

Porque excessivamente grave é a Vida.


in Poesia completa e prosa: "Poesias coligidas"
Vinícius de Moraes

sábado

Sussuros...

"(...) numa daquelas noites boas eu disse-lhe que era destes pequenos beijos e daqueles gemidos sussuros que se faziam os grandes amores e as grandes alegrias."



in O riso de Deus - António Alçada Baptista

quinta-feira

Amei-te

"Ao perder-te perdemos tu e eu. Eu, porque eras o que eu mais amava e tu, porque eu era quem mais te amava. Mas de nós dois, és tu quem mais perde, porque eu poderei amar outros como te amava a ti, mas a ti, não te hão-de amar como eu te amei."

Ernesto Cardenal

terça-feira

Relação virtual



Amigos virtuais durante duas semanas. Depois de um jantar na sexta-feira, e de uma visita à casa dele no sábado à tarde, em que ela se esquivou ao sexo, no domingo apenas resta o chat:


Ela – 13:35 Se quiseres vir ao Meco comer um casco de sapateira diz!
Ele – 15:08 Estou na praia. Estás bem?
Ela – 17:00 Tudo. Beijo!
Ele – 20:11 Grande dia de praia.
Ela – 20:44 Obrigada por informares.
Ele – 20:50 Podias não ter percebido.
Ela – 20:52 Pois, é que eu sou cega, surda.
Ele – 20:53 Ontem percebi!
Ela – 20:55 Ainda bem. È sempre positivo quando percebemos.
Ele – 21.26 Eu ontem ouvi um amanhã?
Ela – 21:49 Olha, os meus objetivos são dispares dos teus. Eu procuro uma boa companhia para jantares e viagens… Tu… algo diferente. Parece-me não haver interceção de coordenadas.
Ele -21:52 Eu também, mas sem limites auto impostos.
Ela  - 21:59 Eu não imponho limites apenas costumo começar pelo início e não pelo fim.
Ele – 22:01 O início é uma semana do outro lado do mundo?
Ela – 22:04 Não. Mais tempo de amena cavaqueira, mais dias de convivência.
Ele – 22:07 Havemos de ter…
Ela – 22:09  Já reparaste que sempre que te convidei para coisas que não poderiam acabar em sexo não aceitaste?
Ele – 22:12 Tudo pode acabar em sexo (dizem que não é mau!!!)
Ela – 22:14 One more time! Once again! Run away child.
Ele – 22:50 Life is life!



23.30 Ele telefona, ela não atende.



.


segunda-feira


sempre sonhei contigo...
és alto, moreno, forte ( sem ser gordo)
os teus olhos são de um verde profundo
os teus braços envolvem-me com uma segurança inusitada
o teu sorriso é perfeito
o teu Ferrari é vermelho
a tua casa é linda
a tua poderosa família vai adorar-te e adoptar-me
passaremos sempre férias nas caraíbas e os fins-de-semana serão a bordo do teu veleiro
os nossos filhos serão 3, rapazes perfeitos, iguais a ti

tenho 42 anos e continuo à tua espera.
esperarei até chegares...



Graça
meu filho



Teresa

quinta-feira

Parto [mais uma vez]!

eu podia ficar nos teus braços.
eu podia escolher a tua serenidade segura.
eu podia escolher o teu confortável abraço.
eu podia ser feliz contigo.
podia...
podia?
 não consigo!

eu preciso do amor maior (aquele que procuro incessantemente...)
 ainda que nunca o encontre...


Sara

Tu


Tu julgas que me conheces.
Tu pensas que sabes quem sou.
Tu ambicionas ter-me.
Lamento.
Mas tu só me conheces o corpo (centímetro a centímetro) não a alma.
Tu não sabes quem sou!

Pilar

sexta-feira

Retrato de Mulher Triste

Vestiu-se para um baile que não há.

Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.


O homem que não existiu.


Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.



Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

domingo

A fotografia

Olho, pela primeira vez, para uma fotografia de meus pais, consciente que nunca o foram. Surpreendente esta sensação de ver um estranho com um olhar cúmplice ao lado de minha mãe, como se tivessem sido um casal de verdade. Reflicto, que certamente o tiveram de ser, nem que fora pelo breve instante em que me conceberam. Não que sinta a repugnância imberbe dos filhos que não conseguem imaginar os pais em estertores sensuais, mas a estranheza de imaginar afectos entre minha mãe e um estranho, do qual tenho um nome no meu nome, e não com o homem que sempre amei como pai e é o único avô que o meu filho conhece.
O passado de uma relação é sempre profundamente obscuro, mais ainda quando nunca foi presente para quem dela nasceu. Os laços que podem ter existido não me sustêm, as gargalhadas que podem ter acontecido não ecoam em mim, os abraços que eventualmente foram trocados nunca me envolveram.

Olho mais atentamente a foto antiga e vejo dois jovens, em noite de primavera, numa esplanada ou num antigo cinema ao ar livre. A rapariga é de facto parecida com a minha mãe, poderia ter sido ela nos anos 60. E o rapaz sentado ao lado dela, e que a olha, possui alguns traços que poderiam ser meus.

Afinal são apenas dois jovens…a viver uma história, a sua história … que me é completamente estranha.

Poderiam ter sido os meus pais, mas não são!

Alexandra

quarta-feira

O Medo

Baixo o livro que leio, pouso-o no colo, e olho para ti. Procuro os teus olhos que fogem incessantemente para lugar nenhum. Vejo como carregas compulsivamente nos botões do comando da TV [como quem corre a maratona em busca da medalha olímpica], suspiras e passas as mão pelo cabelo [como fazes sempre que tens um problema]. Estás perdido… fazes um enorme esforço de contenção, tão grande que os teus dedos se juntam como se segurassem um cigarro na busca do consolo que ele te dava.

Divido-me entre a fúria e a ternura e contínuo, em silêncio, a olhar-te.

Finalmente olhas para mim. Certamente nos meus olhos vês a enorme interrogação que me inunda: “eu só te perguntei se não quererias vir viver cá para casa?”.

Abraças-me e murmuras baixinho: “amo-te, mas tenho tanto medo”.

E perco-me [como sempre] em ti.

E tu, ficas.



Catarina