sexta-feira

Coincidência...


Há uma cena linda no filme Orquídea Selvagem... que sempre me deixa emocionada... pois pode ser o momento em que o desencontro gera o encontro...tal como um toque de mãos... ou o toque do "dedo de Deus"... ou o do ET!! Carré Otis (interpretando a jovem e bela Emily Reed) afasta-se desistindo do seu desejo por Mickey Rourke (interpretando James Wheeler, muitimilionário expatriado americano)... no último momento ele agarra-lhe o braço não resistindo... e reconhecendo a paixão... amam-se loucamente no chão... O filme passa-se no Rio de Janeiro, no Carnaval. (One of Wild Orchid's love scenes between Mickey Rourke and Carré Otis had to be trimmed so that the film could gain an R rating for American release (the uncut version was later released on home video); a widely circulated rumor had it that Rourke and Otis, who were living together at the time, had actually had sex while the scene was filmed, though Otis later denied it.)
Algures em Lisboa, 2.30h da manhã, ele agarra-me o braço antes de eu entrar no carro... abraça-me e beija-me... longa e ternamente…É nessa fracção de segundos, em que a alma se solta e o coração obedece... e o corpo se entrega à paixão de um beijo... que se sente que o encontro é possível... mesmo que por momentos... é tempo em kairos...
Início de uma paixão….sim, hoje sei que foi.
Mas também de um filme… de curta metragem!

Helena, 28 de Abril de 2007
Nota: Obrigada Helena pelo seu primeiro contributo. Beijo. Xanuca B

quinta-feira

Acomodo-me

Acomodo-me no teu colo, ajeito-me no teu abraço, encaixo a cabeça no contorno do teu ombro, sinto na nuca o teu respirar manso. Fico calada e quieta, finalmente consigo descansar. Tens o dom de afastar de mim os fantasmas e as angústias, tens o poder de adormecer em mim a fúria que nasceu comigo, apaziguas-me o passado, prometes-me um futuro tranquilo. Escolho ficar aqui, neste mar da calmaria que és tu. Estou cansada da guerra de procurar o amor.
Vou recuperar forças para a próxima batalha ou o amor é isto?
Rita

quarta-feira

Procuro

Quero um homem com quem dividir tudo,
Quero um homem que em cada momento perceba o que é essencial ou acessório,
Quero um homem que tenha sempre os braços abertos e as mãos estendidas,
Quero um homem que tenha sempre tempo para mim.

Quero um homem que me olhe nos olhos todos os dias,
Quero um homem que não tenha medo de dizer que me ama,
Quero um homem .

Quero um homem ?


Teresa

Um estranho?

A um estranho não se diz nada ou o silêncio é suficientemente esclarecedor?
Com um estranho não se partilha nada ou vive-se a comunhão perfeita do aqui e agora?
Um estranho não nos conhece ou sabe tudo sobre nós?
Um estranho é um estranho. Frio, distante, indiferente, ausente.
Como é que pode um estranho estar tão presente em mim?


Clara

terça-feira

Dois

Não percebo como é possível gostar no silêncio do não dito, mas gosto.
Não aceito desejar um desconhecido, mas desejo.
Não entendo como partilhar um corpo sem construir intimidade, mas partilho.
Não posso aceitar esta relação adúltera, que não tenho, mas sinto.

Somos dois. Dois animais feridos com medo, dois solitários desconfiados do mundo, dois amantes desencontrados na chuva, duas crianças perdidas na praia, dois velhos sem futuro, dois estranhos em silêncio. Dois, sempre dois, nunca nós, jamais nós.

Fugimos incessantemente da partilha: do passado, do presente, das emoções.
Apenas os corpos se unem em desvario de desejos, de sensações e saciados continuamos incapazes de criar intimidade, de dizer: - gosto de ti.


Laura

segunda-feira

A morte de um amor

Meu amor,

Sinto frio. Um frio de dentro, daqueles que nos dão a exacta medida do quanto dói a solidão. Porque um outro, a existir, estaria necessariamente colado a mim, a aquecer-me.

Mas não, estou sozinha numa solidão que não sei bem se escolhi ou se me foi imposta por ti, e tenho frio.

Nunca aceitei a ideia de morte, mas agora, aqui, gelada, pressinto uma morte que não sei se serei capaz de viver. A morte do meu maior amor, do meu amor de adolescente, do meu mais belo amor.

Já não te amo. Mas ainda te quero, não de desejo, mas do velho hábito do teu corpo, para tentar descobrir se os hábitos valem mais do que as novas emoções.

Voltei a desejar, um corpo diferente, franzino e vadio, que me fez redescobrir múltiplas emoções, tão diferentes das que partilhei contigo ao longo de todos estes anos em que permanecemos adormecidos na segurança frouxa de um suposto amor feliz.

De repente, quase de um rompante, redescobri o meu corpo, a minha sensualidade, tornei-me mulher. E tu, na tua indiferença simpática, não reparaste, não sentiste, não percebeste que o fiz na procura cega de validar o nosso amor, mas ele já não existia.

Eu fui deixando de te amar devagarinho, mansamente, sem querer acreditar que o fazia, porque não gosto de desistir e porque acreditei que resistir era mais importante do que eu. Mas, acabei de descobrir que amar já não é viver à espera de nada e que ainda pode ser uma emoção intensa de desejo.

Tu, ao fim de todos estes anos és um pedaço de mim, mas para continuar a viver vou ter que capitular, vou ter que separar-te de mim, reconstruir o meu eu, crescer, qual mãe que pare um filho que se habituou a trazer dentro de si.
Meu grande, grande amor, se tu soubesses como dói a solidão.
Definitivamente, é difícil aceitar a morte da ilusão do maior amor: eu e tu, tu e eu, o nosso nós, a essência de um ser uno que criámos mas que nunca tivemos força suficiente para parir. A nossa união ficou para nós, não a expiámos ou sequer mostrámos ao mundo, o nosso amor não floriu e morreu de solidão.

Tenho frio, sofro a angústia do fim, na procura incessante do princípio da ruína, onde foi o ponto x em que tudo se transformou. Arrasto a culpa de uma fome que já não provoco em ti, que foi que eu fiz? Onde é que matei o futuro?

E agora redescoberta, desejada, pergunto-te meu antigo amor, fui mesmo eu e tu que o matámos, ou a morte é tão banal como a vida.
Ana

Ficção

para todos os homens que passaram na minha vida e permanecem em mim....

Alexandra