Não percebo como é possível gostar no silêncio do não dito, mas gosto.
Não aceito desejar um desconhecido, mas desejo.
Não entendo como partilhar um corpo sem construir intimidade, mas partilho.
Não posso aceitar esta relação adúltera, que não tenho, mas sinto.
Somos dois. Dois animais feridos com medo, dois solitários desconfiados do mundo, dois amantes desencontrados na chuva, duas crianças perdidas na praia, dois velhos sem futuro, dois estranhos em silêncio. Dois, sempre dois, nunca nós, jamais nós.
Fugimos incessantemente da partilha: do passado, do presente, das emoções.
Apenas os corpos se unem em desvario de desejos, de sensações e saciados continuamos incapazes de criar intimidade, de dizer: - gosto de ti.
Laura