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Dá-me música


Pensando


Fecho os olhos e acalmo a respiração, para aparentar um sono tranquilo enquanto oiço os teus passos [descalços] em direcção ao quarto. Enfias-te na cama. Revolve-se-me o estômago quando penso como é que alguém se enfia na cama sem lavar os dentes, a cara as mãos, pelo menos… Raio dos gajos que são mesmo uns porcalhões. Depois penso que talvez queiras manter o seu cheiro, o seu sabor, os seus vírus e bactérias.
Adormeces depressa, ou não, eu é que não consigo adormecer.
Quando a tua respiração fica funda e os estertores do sono abanam o teu corpo, levanto-me. Arranco o telemóvel do bolso das tuas calças e percorro as listas de número marcados, de chamadas perdidas, depois passo aos sms, aos mms, e lá estão as mensagens do teu grande amigo Silva: a combinar horários, locais para almoçar, copos ao fim da tarde e reuniões fora de horas. O Silva é ela. O Silva só pode ser ela. Bem que a Ana me tinha avisado que te tinha visto com uma gaja num fim de tarde nos Pastéis de Belém. [mas quem é que hoje em dia marca encontros nos Pastéis de Belém? Só tu e a patega que assina Silva]. Ocorre-me uma ideia: corro para o escritório, ligo o portátil, entro no nosso banco, nas nossas contas e descubro quatro pagamentos VISA num motel xunga. Irra que além de asqueroso és burro. Tenho todas as provas nas mãos, tu nunca vais poder desmentir isto, tenho vontade de te acordar agora e de esfregar tudo isto na tua cara de insecto.
Mas, para quê? Vou tirar o pai aos miúdos, vou ter de vender esta casa, que adoro, vou baixar o meu nível de vida, vou fazer contas ao fim do mês, vou ser uma pobre divorciada aos olhos dos outros…

Afinal qual é o problema de andares entretido com uma gaja qualquer. Assim não me chateias na cama, o que aliás te agradeço, és um bom pai, ganhas bem, não nos damos mal, raramente discutimos, temos o Cruzeiro já marcado para as férias de Verão. Pensando bem, isto é ouro sobre azul.

Volto para a cama e tu, ao sentir o meu corpo a chegar, encostas-te a mim. Afinal somos um casal, temos uma família, um património, uma história. Já não nos amamos, mas o que é isso perante o que temos. E enquanto o teu braço me envolve a barriga penso de afinal talvez deva aceitar o convite do Pedro para almoçar, afinal há uns dois meses que ele anda a falar no assunto.
Anabela