segunda-feira

Os Incómodos

Deito o telemóvel para longe de mim.
Tapo a cabeça com almofadas para não ouvir o toque insistente.
Avalio as vantagens e desvantagens de mudar de número.
Olho para a estante, em desespero, à procura de alguma manual que me ensine a livrar de um gajo chato.
Porra, porque será que os tipos não encaixam uma queca e vai andando mano? É logo preciso inventar uma estória de amor? Insistir em novos encontros? O gajo é parvo ou quê?
Livra. Eu só queria aliviar o stress e o gajo tinha boa pinta, mas já chega! Cumpriu o dever, pode ir andando. Ele há aí tanto corpinho para comer, que não vale a pena comer duas vezes o mesmo…
Irra, que o telemóvel já está a tocar outra vez e não é que é o gajo, de novo…



Vera

quarta-feira

Perdi-me

Hoje perdi-me...
Perdi o pudor, esqueci os segredos, despedacei a racionalidade e disse-lhe: você tem razão, nós somos inevitáveis.

(Eu e você, você e eu, eu e você, você e eu, eu e você, você e eu, eu e você, você e eu, por mais que não o queiramos, temos um nós).
Você sorriu e disse que sim.

Hoje vou sonhar a possibilidade de sermos uma realidade. Pelo menos, por umas horas vou ser incondicionalmente feliz...

Constança

terça-feira

Cumplicidades

As relações constroem-se de cumplicidades.
Na primeira infância a relação com a mãe tem a cumplicidade da sobrevivência afectiva, depois iniciam-se os processos de cumplicidades mais elaboradas com a conquista de outros significantes... os avós, os tios, os professores, os outros adultos, os amiguinhos da infância... Mais tarde, na adolescência, surgem as cumplicidades essenciais... as primeiras amigas, as grandes confidentes, a partilha dos primeiros segredos... Simultaneamente surgem os primeiros namorados, a troca envergonhada dos corpos, a cumplicidade de uma intimidade não totalmente construída, mas mesmo assim significativa... Depois, as relações começam a definir-se, a assumir contornos mais estáveis... com o namorado, o companheiro ou o marido surge a profunda intimidade da sexualidade partilhada, dos projectos a dois, de um futuro, de uma família... paralelamente delineiam-se outras cumplicidades igualmente importantes, as que estabelecemos com as mulheres significantes da nossa vida: a mãe cúmplice fundamental da nossa maturação, e as amigas...

As amigas são as cúmplices perfeitas... com elas partilhamos tudo... os sonhos, as fantasias, as mentiras, as dores, as frustrações das cumplicidades que adormecem ou acabam com os nossos homens, as sensações de novas cumplicidades que despontam com outros homens... em suma, com elas partilhamos a vida...

Eu tenho a sorte de ter cúmplices de excepção... são mulheres completamente diferentes umas das outras... vivem, sentem, sofrem e procuram o segredo da sua felicidade das formas mais diversas... mas são todas igualmente incondicionais amigas.

Por circunstâncias da vida, pela forma de gostar... umas estão mais presentes que outras...

Existe a quotidianamente próxima, a incondicional, a irmã escolhida pelo coração. Com ela partilho tudo... lágrimas, gostos, desgostos, medos, sucessos e segredos... com ela não tenho guardas, a relação é confiante e sincera... devo-lhe muita da gestão do equilíbrio emocional que tenho conseguido ao longo da vida.

Depois o anel alarga-se e encontram-se as amigas/colegas com quem partilho o trabalho, os humores, as dores, o desespero, as gargalhadas e os choros, oito horas por dia. Num outro elo, surgem as amigas que passam na minha vida na sequência de afinidades fulgurantes e empatias profundas... por fim, as mais distante, geográfica e emocionalmente, mas que cresceram comigo, e com que mantenho cumplicidades que me permitem continuar uma conversa de há anos atrás como se ainda tivéssemos conversado na véspera.

Depois, as que ficam apenas no coração, porque partiram, cresceram de forma diferente e escolheram outros caminhos …

A todas estas minhas cúmplices de eleição devo muita da qualidade da minha vida, com elas partilhei alguns dos meus momentos mais significativos... espero sinceramente, que cada uma delas sinta em mim igualmente, a segurança da cumplicidade que lhes dedico...
Alexandra

quinta-feira

Desassossego

O meu coração bate descompassadamente, quase me salta pela boca.
Tenho a roupa em desalinho, tenho o teu sabor em mim. Tenho a vida do avesso.
Mas estou tão feliz.
Sílvia

quarta-feira

Prazeres

É estranho como partilho com o M. uma sexualidade tão cheia, tão rica, completa e entusiasmante. Muitas vezes, sinto que ele é apenas um espelho de mim, das minhas mais secretas fantasias, dos meus desejos, dos meus mais íntimos caprichos. É tão fácil estar com ele na intimidade, ele faz-me sentir segura, bonita, poderosa, capaz de ter e de dar todo o prazer do universo. Confesso que nunca foi tão satisfatório ter sexo com alguém. E sinto a estranheza desta evidência: com os homens que amei nunca foi assim. Possivelmente, a pressão de amar e de querer ser amada nunca me deixou ser eu, reconheço que por vezes fui insonsa, quieta, controlada, castrada pelo imenso amor que sentia (nuca esquecerei que o P. me disse "porque é que não fazes o que os teus olhos dizem").
Reconheço também, que nenhum dos meus anteriores amantes possuía esta força da natureza, este desespero dos limites do deleite do M. Ele tem uma impetuosidade singular, uma fome de libertar todas as tensões da sua vida através do prazer e uma imensa capacidade de me fazer libertar de mim, dos meus medos, das minhas ansiedades e falsos moralismos. Connosco, é o prazer pelo prazer vivido sem pudor. Mas, mesmo assim, por vezes, ainda procuro em mim o cheiro, o sabor, os contornos, os ritmos, do último homem que amei.
Lia

segunda-feira

Procuro...

Onde é que estás?
Meu príncipe de sonho, meu herói mítico, meu companheiro de vida.
Quando é que vens ler comigo na cama? quando é que acabas o poema que me dedicaste? quando é que partimos na nossa próxima viagem? Quando é que me mostras que sou o centro do teu universo? Quando é que gritas que me amas?Quando é que chegas?

Vem depressa, pois só a ti te posso amar, meu amor.


Raquel