terça-feira

Cumplicidades

As relações constroem-se de cumplicidades.
Na primeira infância a relação com a mãe tem a cumplicidade da sobrevivência afectiva, depois iniciam-se os processos de cumplicidades mais elaboradas com a conquista de outros significantes... os avós, os tios, os professores, os outros adultos, os amiguinhos da infância... Mais tarde, na adolescência, surgem as cumplicidades essenciais... as primeiras amigas, as grandes confidentes, a partilha dos primeiros segredos... Simultaneamente surgem os primeiros namorados, a troca envergonhada dos corpos, a cumplicidade de uma intimidade não totalmente construída, mas mesmo assim significativa... Depois, as relações começam a definir-se, a assumir contornos mais estáveis... com o namorado, o companheiro ou o marido surge a profunda intimidade da sexualidade partilhada, dos projectos a dois, de um futuro, de uma família... paralelamente delineiam-se outras cumplicidades igualmente importantes, as que estabelecemos com as mulheres significantes da nossa vida: a mãe cúmplice fundamental da nossa maturação, e as amigas...

As amigas são as cúmplices perfeitas... com elas partilhamos tudo... os sonhos, as fantasias, as mentiras, as dores, as frustrações das cumplicidades que adormecem ou acabam com os nossos homens, as sensações de novas cumplicidades que despontam com outros homens... em suma, com elas partilhamos a vida...

Eu tenho a sorte de ter cúmplices de excepção... são mulheres completamente diferentes umas das outras... vivem, sentem, sofrem e procuram o segredo da sua felicidade das formas mais diversas... mas são todas igualmente incondicionais amigas.

Por circunstâncias da vida, pela forma de gostar... umas estão mais presentes que outras...

Existe a quotidianamente próxima, a incondicional, a irmã escolhida pelo coração. Com ela partilho tudo... lágrimas, gostos, desgostos, medos, sucessos e segredos... com ela não tenho guardas, a relação é confiante e sincera... devo-lhe muita da gestão do equilíbrio emocional que tenho conseguido ao longo da vida.

Depois o anel alarga-se e encontram-se as amigas/colegas com quem partilho o trabalho, os humores, as dores, o desespero, as gargalhadas e os choros, oito horas por dia. Num outro elo, surgem as amigas que passam na minha vida na sequência de afinidades fulgurantes e empatias profundas... por fim, as mais distante, geográfica e emocionalmente, mas que cresceram comigo, e com que mantenho cumplicidades que me permitem continuar uma conversa de há anos atrás como se ainda tivéssemos conversado na véspera.

Depois, as que ficam apenas no coração, porque partiram, cresceram de forma diferente e escolheram outros caminhos …

A todas estas minhas cúmplices de eleição devo muita da qualidade da minha vida, com elas partilhei alguns dos meus momentos mais significativos... espero sinceramente, que cada uma delas sinta em mim igualmente, a segurança da cumplicidade que lhes dedico...
Alexandra