e com a dor primária, tão forte como a cor que lhe dá o nome, preparei-me
para o pior.
para te perder, ainda antes de te conhecer, para desistir e partir, ainda
antes de saber quem és tu.
esta cólica de bicho, que me suga o folego quando vem e me turva a razão e o
querer e me deixa exaurida e inundada em suores acres nos breves instantes em que
amaina, reduz-me à essência do que sou, do que somos: gente com corpo animalejo
que concebe e pare como qualquer cadela da rua.
então tu rasgas-me, rebentas o aquário onde viveste. anestesias-me, porque a
dor é tão forte que se a sentisse não a suportaria.
nasces-te, pari-te.
cheiro o visco que te envolve o corpo. misturo o meu pranto com o teu. quero
lamber-te.
não o faço, abraço-te (não sei se para te proteger ou para experimentar o consolo
que me podes dar. não sei.).
apenas pressinto que nós dois, agora ainda perdidos nas nossas dores e solidões,
quando nos conhecermos nos tornaremos uma família. a família um do outro.
Ana