quarta-feira

Luto

Vesti aquele vestido negro do qual gostavas de puxar o fecho lambendo-me as costas por sobre a combinação de renda que te excitava. Apanhei o cabelo, como me dizias que me dava um ar de miúda traquina, calcei as sandálias de salto alto que gostavas de me desapertar, quando voltávamos para casa depois das festas. E fui esperar por ti…

Enquanto esperava, usei os metros e metros de tule que tinha comprado horas antes, quando a esperança já estava perdida, dispus as mais exóticas flores por todo o salão, indiquei onde colocar árvores e palmeiras, acendi velas e incensos, distribuí anjos e arcanjos e continuei a esperar por ti…

Quando chegas-te, quis permanecer sozinha, ainda que no meio de muita gente que te queria homenagear e partilhar comigo a nossa dor. Mas não é possível compartilhar a nossa despedida com mais ninguém, nem com os nossos filhos…

Acariciei-te de mansinho, disse-te o quanto te amava e o quando te odiava por me deixares assim, agradeci-te tudo o que me deste e amaldiçoei-te por tudo o que ainda me poderias ter dado.
Beijei-te, e tu não me retribuíste como de costume.
Chorei…
Porque é que já não me queres? Porque é que te foste embora, assim?

Amélia
Para a F. que perdeu o seu amor de uma vida.