terça-feira

Fado


Está calor. Abro a janela e mergulho na luz e no sol. Fico quieta a absorver as carícias que o tempo me faz. Espreguiço-me. Prepara um banho, um mar de sais e espuma. O rádio toca lastimosas cantigas de amor. O castelhano torna tudo mais meloso, mais sentido, mais dolente. O caos da cidade não chega aqui. Os discursos inflamados do líder ufano só se farão ouvir lá mais para o entardecer. Mergulho nesta banheira que cheira a baunilha e a frutos exóticos e penso como a vida dá tanta volta. E que volta esta que me pôs do outro lado do mundo. Há meia dúzia de anos este seria o cenário mais improvável da minha vida. Mas entre perdas, escolhas, oportunidades, sofrimento, trabalho, sorte, preserverança, teimosia, cheguei aqui. Cá estou. E não posso deixar de concluir que tem mesmo que existir um destino, esse fado luso que me trouxe até aqui. Para quê, ainda não sei, mas vou descobrir nos próximos meses.
Joana