sexta-feira

Mãe

Finalmente saiu-te de rajada o que te andava atravessado na garganta há mais de 2 anos: “ Não aguento mais esta merda. Quero uma mulher e desde que a Maria nasceu, aliás desde que ficaste grávida, porra, és só mãe, só mãe, só mãe, e eu? Só servi para te fazer um filho, não foi?”. Tive para responder francamente: “Foi, foi isso mesmo”. Mas mais uma vez fui sobretudo mãe e não quero que a Maria, para já, seja uma filha dividido por dois, transformada numa mochila arrumada de 15 em 15 dias.
Por enquanto a Maria ainda precisa de um pai presente cá em casa.
Por ela, por isso, inspirei fundo, bati a pestana, lambi o lábio, e disse-te baixinho: “amor ando cansada, mas tenho sempre um tempinho para ti, anda, vamos para a cama, vá lá…”.
E tu vieste. E passou-te a fúria, e esqueceste tudo o resto, como é habitual, e eu gemendo aqui e ali, para te agradar, distrai-me a pensar em como seria bom que a Maria tivesse uma mana redondinha, fresquinha a cheirar a leite e a bebé.
Que bom que é ser mãe…


Brígida