Aprendi, na vida, da forma mais dura a importância de perdoar. Só perdoando se consegue seguir o caminho sem aspereza ou amargura. Mas perdoar é um dos mais duros exercícios de realizar. Jamais esqueço a mágoa causada por aqueles que amo. Às vezes passaram mil anos, e eu não esqueço. Perdoo, mas não esqueço.
Não esqueço o dedo indicador que o João me entalou na porta do quarto da avó, quando tinha 4 anos, não esqueço o vestido da boneca que a Margarida me roubou, quando tinha 6 anos, não esqueço a dor da dentada na barriga que a Ana me deu, quando tinha 8 anos, não esqueço a pêra esmagada na cara pela minha mãe, quando tinha 5 anos... São imensas as memórias de mágoas impressas na memória. Muitas, julgo até já as tenha trazido nos genes.
Agora, ainda não te consigo perdoar. Não te consigo perdoar o silêncio, o mutismo, de quando deverias ter falado. Não te consigo perdoar o adiar constante da decisão com a resposta mansa de “o que decidires está decidido”. E não te consigo perdoar a pergunta fatal justamente no instante crucial “é isto o que tu queres?”. Não te consigo perdoar a solidão da espera na sala fria, quando todos estavam a par de mãos dadas. Não te consigo perdoar a crítica muda à decisão que me obrigaste a tomar sozinha. Não te consigo perdoar o abraço que não me deste nem as lágrimas que não choraste comigo. Não te consigo perdoar toda a dor que sinto.
Toda esta mágoa tolhe-me e impede-me de ultrapassar o meu sofrimento, de fazer o meu luto, de respirar sem dor no peito e sem amargura.
Não sei quando ou sequer se te conseguirei perdoar, embora saiba que serás para sempre o pai do meu único filho.
Madalena
Não esqueço o dedo indicador que o João me entalou na porta do quarto da avó, quando tinha 4 anos, não esqueço o vestido da boneca que a Margarida me roubou, quando tinha 6 anos, não esqueço a dor da dentada na barriga que a Ana me deu, quando tinha 8 anos, não esqueço a pêra esmagada na cara pela minha mãe, quando tinha 5 anos... São imensas as memórias de mágoas impressas na memória. Muitas, julgo até já as tenha trazido nos genes.
Agora, ainda não te consigo perdoar. Não te consigo perdoar o silêncio, o mutismo, de quando deverias ter falado. Não te consigo perdoar o adiar constante da decisão com a resposta mansa de “o que decidires está decidido”. E não te consigo perdoar a pergunta fatal justamente no instante crucial “é isto o que tu queres?”. Não te consigo perdoar a solidão da espera na sala fria, quando todos estavam a par de mãos dadas. Não te consigo perdoar a crítica muda à decisão que me obrigaste a tomar sozinha. Não te consigo perdoar o abraço que não me deste nem as lágrimas que não choraste comigo. Não te consigo perdoar toda a dor que sinto.
Toda esta mágoa tolhe-me e impede-me de ultrapassar o meu sofrimento, de fazer o meu luto, de respirar sem dor no peito e sem amargura.
Não sei quando ou sequer se te conseguirei perdoar, embora saiba que serás para sempre o pai do meu único filho.
Madalena