sexta-feira

Achas que é amor?

Não sei que chamar à tranquilidade que me dás, à calmaria que sinto, nem à necessidade de ti.
Não sei como ler tanto afecto, tanta atenção e desejo.
Não sei... como reagir ao teu amor verbalizado.
(sabes que jamais alguém mo tinha dito?)
Não sei, não sei...
Achas que é amor?


Magda

segunda-feira

Saudades do futuro

Cheiras bem. Gosto desse teu cheiro a suor fresco. Gosto do teu perfil quando te abandonas em sonhos (lembras-me os meus filhos quando eram pequenos). Gosto da forma solitária como dormes, ocupando todo o espaço da cama, entrelaçando o teu corpo sobre o meu, sem qualquer pudor de invadires o meu espaço. Gosto do teu abdómen firme e nu. Gosto da ânsia com que te aproprias de mim. Gosto da intensidade do teu desejo que me leva onde há muito já não ía.

Não sei o que vês em mim? O meu ventre já não é liso, os meus seios já não contrariam a gravidade, em torno dos meus olhos surgem vincos de vida, a minha pele já não é fresca como a tua, o meu cabelo precisa de tinta para esconder a alvura das suas raízes.

Bem sei, que os meus filhos são mais novos que tu, mas objectivamente, se tivesse sido mãe mais cedo, poderia ter filhos da tua idade.
Não sei o que vês em mim? Eu, em ti, procuro o futuro que gostaria de ter tido…
São

sexta-feira

Estranhos afectos

Os afectos são estranhos, comportam-se como entidades exteriores, autónomas, arrebatadas. Fogem do nosso controle, da nossa racionalidade.
Os afectos vivem em nós, obrigando-nos ao esforço hercúleo de viver, por vezes, contrariando-os, combatendo-os. (desesperadamente).

Os afectos são absurdos...
Tão absurdos que qualquer explicação é estupidamente ridícula.

Antónia

quarta-feira

Quotidianos

Para alguns os afectos só nascem na ausência,
só são possíveis na distância,
só acontecem na impossibilidade.

Outros fazem do seu quotidiano amar.

Angêla

sexta-feira

Finitude

Foi hoje que tudo acabou. E, estranhamente doeu.
Já nada mais nos liga, nem o amor, nem os papéis.
Hoje as nossas vidas estão completa e legalmente separadas.
Fiquei triste, mas sei que tu também.

Gostei que tivesses comentado que hoje estava um verdadeiro temporal, como no dia do nosso casamento! Eu estava a pensar no mesmo... Afinal não foi em vão, pois não? Valeu a pena!

Foste o meu homem, o meu menino, o meu pai, durante tantos anos.
E depois crescemos de forma diferente, e eu precisei de respirar de conhecer outros braços, outros cheiros, outros olhos.
Continuo a gostar de ti, pelas memórias.
Vou sempre gostar de ti.

Manuela

quinta-feira

Perdoar

Aprendi, na vida, da forma mais dura a importância de perdoar. Só perdoando se consegue seguir o caminho sem aspereza ou amargura. Mas perdoar é um dos mais duros exercícios de realizar. Jamais esqueço a mágoa causada por aqueles que amo. Às vezes passaram mil anos, e eu não esqueço. Perdoo, mas não esqueço.

Não esqueço o dedo indicador que o João me entalou na porta do quarto da avó, quando tinha 4 anos, não esqueço o vestido da boneca que a Margarida me roubou, quando tinha 6 anos, não esqueço a dor da dentada na barriga que a Ana me deu, quando tinha 8 anos, não esqueço a pêra esmagada na cara pela minha mãe, quando tinha 5 anos... São imensas as memórias de mágoas impressas na memória. Muitas, julgo até já as tenha trazido nos genes.

Agora, ainda não te consigo perdoar. Não te consigo perdoar o silêncio, o mutismo, de quando deverias ter falado. Não te consigo perdoar o adiar constante da decisão com a resposta mansa de “o que decidires está decidido”. E não te consigo perdoar a pergunta fatal justamente no instante crucial “é isto o que tu queres?”. Não te consigo perdoar a solidão da espera na sala fria, quando todos estavam a par de mãos dadas. Não te consigo perdoar a crítica muda à decisão que me obrigaste a tomar sozinha. Não te consigo perdoar o abraço que não me deste nem as lágrimas que não choraste comigo. Não te consigo perdoar toda a dor que sinto.

Toda esta mágoa tolhe-me e impede-me de ultrapassar o meu sofrimento, de fazer o meu luto, de respirar sem dor no peito e sem amargura.

Não sei quando ou sequer se te conseguirei perdoar, embora saiba que serás para sempre o pai do meu único filho.

Madalena

sexta-feira

Enganos

" Não me beijes por engano, não me causes maior dano, do que aquele que causas-te no dia em que aproximas-te os teus lábios do meu peito e no momento perfeito, de paz e de assombração, tocas-te o meu coração."
Sérgio Godinho.


Júlia