terça-feira

Ausência II

Ela entrou e olhou-o. Desejou-o, e sentiu o rosto molhar-se de tristeza. E, embora ateia, rezou para que o tempo parasse ali.

Ela fixou-o de novo e ambicionou ter uma memória prodigiosa para nunca esquecer nenhum dos seus contornos, porque sabia que só na memória o poderia ter. Depois, tocou-o mansamente, acariciou-o com a ponta dos dedos, como se temesse que à mínima pressão ele se ausentasse para sempre.

Ele olhou-a, abraçou-a com força e sorriu com a segurança de quem prefere a solidão.

Como de costume, amaram-se devagar, em silêncio, eternamente e depois continuaram unidos, calados, a adiar o dia que sabiam não ter.

Já na rua, de manhã, ela sentiu-se tão sozinha que rezou pela segunda vez, implorou perder a memória para esquecer qualquer resíduo de emoções, de repente não queria saber como era desejar, como era querer, como era amar, quis nunca mais sentir nada, quis esquecer-se de si e perder-se de vez.
Isabel