terça-feira

Passado (im)perfeito...




Passaram 15 anos.
Num pulinho passei do fim dos vintes para o princípio dos quarenta. Tenho agora algumas rugas e mais alguns cabelos brancos. Hoje estou mais consciente de mim, mais segura, mais magra, mais gira e muito mais feliz. Agora tenho filhos, uma família e um porto de abrigo.
Mas você continua em mim (não vale a pena negá-lo). Descubro-o em algumas esquinas da cidade, nas músicas que ouvíamos no seu carro, nos restaurantes escondidos, que eram os nossos, nos silêncios que partilhávamos nas noites que nunca foram integralmente nossas. Ainda guardo com ternura o arcaico telemóvel para o qual me ligava, uma agenda com algumas palavras escritas pela sua mão, os recados que me deixava nos hotéis (quando a minha vida era viajar pela Europa), os talões de embarque das vezes em que nos cruzámos nos aeroportos.
Aprendi a aceitar as nossas memórias, a sorrir quando me lembro de si, a esquecer os seus contornos angulosos, a sua virilidade, os seus abraços, e sobretudo o seu “não nos podemos voltar a encontrar”.
Tento imaginar como estará hoje, os seus quarenta de então serão cinquenta e muitos, talvez sessenta. Como é que estará?
Projecto-nos aos dois: e se você tivesse criado espaço na sua vida para mim, e se você tivesse querido ser mesmo o homem da minha vida (como durante tantos anos acreditei), e se os meus filhos tivessem sido nossos. Será que tínhamos sido felizes? Será que hoje ainda estaríamos juntos?
Ou um amor assim só pôde existir porque foi (e será) uma ficção minha?




Maria Sofia