terça-feira

A paixão

Vejo esse brilho nos teus olhos pela milionésima vez.
Durante o jantar juras que é esta a mulher da tua vida. Argumentas da ligação kármica, dos mapas astrológicos que se completam, das frases que começas e ela acaba, da tremura que te dá ao ouvir a sua voz, das peles que se fundem e confundem numa intimidade secular, de te sentires verdadeiramente amado pela primeira vez.
A tua aura emana a energia fulminante da paixão.
Mas (mais uma vez), desde o inicio que esperava o mas, afinal veio a meio do prato principal, pois todas as tuas histórias têm sempre o mas, ela é casada tem crianças pequenas, não está de todo livre, vive o seu casamento tranquilo (e tu certamente quebras-lhe esse tédio) e perguntas-me o que fazer.
Não te sinto disponível para qualquer racionalidade, não vale a pena jurar-te que todas as paixões são sempre assim, nem contar-te que repetes nos teus (des)amores incessantemente o mesmo padrão. Nos últimos anos já viveste o mesmo mais de uma mão cheia, e já igualmente todas foram impossíveis, e por isso choras-te, e sofres-te e ficas-te de rastos, e deprimido e infeliz…
E assim será daqui a uns tempos, e o meu ombro vai ficar com baba e ranho e tirar-te da cama para o mundo vai ser uma nova aventura…
Mas agora comes tranquilamente, com os gestos seguros de quem se sente amado.
Como não queres ouvir a verdade respondo-te: vive a tua paixão, vamos brindar ao hoje e a esse teu grande, grande amor e venham as sobremesas.

Simone

Olhares

Há semanas que nos olhamos em silêncio.

Espio-te por cima do livro que (não) leio neste percurso á beira-mar. Tu pigarreias quando o comboio sacode e nesse instante levantas os olhos para mim. Eu baixo a cabeça. Saímos na mesma paragem e deixas-me sempre passar à tua frente como se me quisesses seguir, mas não segues. Eu desço para o metro e tu atravessas a Avenida para desaparecer até à manhã seguinte, onde recomeçamos a nossa dança do olhar.

Por vezes, antes de adormecer, juro a mim própria que será no dia seguinte que vou manter o meu olhar fixo em ti e obrigar-te a reagir nem que seja com um sorriso ténue.
Mas não consigo.

Não sei se o que me impede é a minha história, ou a tua, a que conta esse aro dourado que trazes no anelar esquerdo.

Diana

quarta-feira

Nostalgia




de um amor aos 15 anos...