sexta-feira

Ficas?

Acordo.
Não reconheço o cenário.
O meu corpo está entrelaçado com o teu.
Doem-me as costas, mas se mudar de posição certamente acordo-te e não sei se quero que acordes, ainda.
Preciso de algum tempo para poisar neste lugar, nesta cama, neste quarto.
Dói-me a cabeça.
Ontem bebi demais, mas a conversa não tinha fim, e a boca ia ficando seca das palavras e de desejo.
Suspiras, espreguiças-te.
Sustenho a respiração, um arrepio invade-me a barriga, agora é que vai ser, vais olhar para mim e perguntar-te porque é que ainda estou aqui.
Abres os olhos, sorris, abraças-me e sussurras-me lambendo-me a orelha, ainda bem que ficas-te, ainda bem que te conheci.
Estremeço.
Viro-me e olho para ti, perscruto o fundo desses lagos castanhos que te iluminam a cara e vejo uma sinceridade imensa, que me espanta.
Perguntas-me se fico.
Respondo-te se queres mesmo que fique ou se estás apenas a ser simpático porque o pequeno-almoço tardio não é uma obrigação.
Ris.
Tens as gargalhadas mais bonitas que já ouvi.
Deitas-te em cima de mim e esclareces: não te perguntei se ficavas para o pequeno-almoço, perguntei se ficavas na minha vida.
Rio-me, com gargalhadas que nunca me tinha ouvido.
Beijo-te e não respondo.
Já tenho vida suficiente para saber que estas histórias que começam pela cama são o que são.
Voltas a beijar-me, lambuzas-me toda, inundas-me de novo de desejo.
Suamos.
Insistes em levar-me ao colo para a banheira.
Enquanto me lavas, como me fosse uma criança, voltas a perguntar: ficas?
Volto a procurar os teus olhos.
Enrosco-me no teu corpo e respondo baixinho: não sei, a Corín Tellado já morreu….
Lúcia