Olho, pela primeira vez, para uma fotografia de meus pais, consciente que nunca o foram. Surpreendente esta sensação de ver um estranho com um olhar cúmplice ao lado de minha mãe, como se tivessem sido um casal de verdade. Reflicto, que certamente o tiveram de ser, nem que fora pelo breve instante em que me conceberam. Não que sinta a repugnância imberbe dos filhos que não conseguem imaginar os pais em estertores sensuais, mas a estranheza de imaginar afectos entre minha mãe e um estranho, do qual tenho um nome no meu nome, e não com o homem que sempre amei como pai e é o único avô que o meu filho conhece.
O passado de uma relação é sempre profundamente obscuro, mais ainda quando nunca foi presente para quem dela nasceu. Os laços que podem ter existido não me sustêm, as gargalhadas que podem ter acontecido não ecoam em mim, os abraços que eventualmente foram trocados nunca me envolveram.
Olho mais atentamente a foto antiga e vejo dois jovens, em noite de primavera, numa esplanada ou num antigo cinema ao ar livre. A rapariga é de facto parecida com a minha mãe, poderia ter sido ela nos anos 60. E o rapaz sentado ao lado dela, e que a olha, possui alguns traços que poderiam ser meus.
Afinal são apenas dois jovens…a viver uma história, a sua história … que me é completamente estranha.
Poderiam ter sido os meus pais, mas não são!
Alexandra