terça-feira

Banalidade

Hoje, descobri que sou banal. Terrivelmente banal.

Não consigo deixar de sorrir perante essa evidência, logo eu que detesto a banalidade, qualquer que ela seja.

Hoje, enquanto almoçava sozinha ouvi, primeiro distraidamente e depois de forma interessada, a conversa da mesa ao lado, e a estória contada em voz triste, mas com discrição, era igualzinha à do meu grande, grande amor. Ela, no início dos seus 30 apaixonou-se pela maturidade dele. Ele, incapaz de compromisso afectivo, mantém uma eficaz postura nim (reconheci as mesmas mensagens afectivas distantes mas encantatórias, sempre proferidas em quadros não comprometedores, identifiquei o mesmo investimento estratégico dele quando ela assume pseudo posições de ruptura, até o discurso de evitamento não comunicacional era igual).

Sorri, para não chorar, porque tomei consciência de que devia fazer parte de uma qualquer estatística de mulheres apaixonadas por tipos vampiramente egoístas.

Ela, a que contava à amiga a sua estória, fungava docemente por entre os seus longos cabelos lisos, que lhe omitiam parte do rosto. Eu senti pena, também por mim...

Não podia continuar ali, paguei apressadamente e quando saí não resisti a cruzar com ela um olhar de compreensão e um terno sorriso cúmplice.

Saí para o sol quente de Primavera e pensei como às vezes se cresce sem se dar por isso...
Verónica